quarta-feira, abril 05, 2006

Padre mas não muito...

Foi com alguma estupefacção que li no «Público» de hoje que um padre se arrisca a ter de pagar uma multa de 3740 euros por destruir um ninho de cegonhas em Olhão com recurso talvez a paus e pedras de calçada...Ora eu pensava que os padres não eram dados a estas actividades! E os atentados contra a natureza não se ficam por aqui...Uma limpeza do coberto vegetal na ria de Alvor levou à destruição de três espécies de interesse comunitário e uma de interesse prioritário! Nem a consagração contitucional do direito ao ambiente - no plano subjectivo e objectivo - nos livra destas maldades...

8 Comments:

Blogger JHonrado said...

As cegonhas brancas (Ciconia ciconia), ao contrário das suas parentes negras (Ciconia nigra) não constituem um espécie de ave em perigo de extinção. Com efeito, basta efectuar uma pequena viagem de automóvel(em qualquer direcção)para chegar à conclusão de que em qualquer poste de electricidade/telefone, em qualquer árvore ou edifício mais alto, etc., somos confrontados com 1 local de nidificação.

Sabendo que as cegonhas utilizam idênticos métodos de construção de ninhos como por exemplo as andorinhas dos beirais, é fácil conjecturar sobre qual o motivo do padre em questão ter destruído ou tentado destruir o ninho de tal ave. Assim, na medida em que a escolha de tal local de nidificação seria ou poderia ser prejudicial aquele lugar de culto, o padre resolveu tomar 1 medida que lhe poderá vir a sair algo dispendiosa por não ter pedido autorização às entidades competentes. Pergunto eu: qual de nós, vendo 1 situação prejudicial a propriedade nossa (no caso em apreço da Igreja), não teria tomado medida similar?!

Em meu entender, o que se passa é algo distinto, é aquilo que eu apelido de uma "ditadura verde" (não Sportinguista, porque essa seria bem vinda:) mas a ditadura daqueles que sob o apanágio de se apelidarem de ecologistas, verdes (partido que eu nunca consegui compreender qual a independência e objectivos)ou algo do estilo, se julgam donos da razão e pura e simplesmente partem do princípio que quaisquer opiniões discordantes são erróneas.

Fala-se de cegonhas mas há outros inúmeros exemplos similares. Refiro 1 que me é particularmente grato e outro que é verdadeiro exemplo do exposto até aqui. O primeiro é o referente às corridas de toiros, na qualidade de aficionado, já mantive algumas discussões (umas mais violentas que outras)com os chamados "tipos da protectora" e das quais as ilacções que retirei conseguiram ser as piores possíveis; pessoas que por serem contra consideram que nada do que seja dito em prol de corridas de toiros possa estar certo, possa sequer ser inteligente. Considero que tal em nada abona em prol dos "nossos verdes"..
O segundo exemplo é a situação de certas espécies de elefantes em África. Em Moçambique as populações dos ditos animais foram praticamente dizimadas, ficando os mesmos em perigo de extinção. Todavia e após 1 criterioso e eficiente programa de recuperação, conseguiu-se livrar os mesmos de tal perigo. O que sucede agora é que a população de elefantes tornou-se excessiva e cada vez mais prejudicial à existência humana, que, como é sabido, no chamado continente negro já é difícil de per si. A solução (quanto a mim lógica) encontrada pelas autoridades moçambicanas, foi a de voltar a permitir, dentro de criteriosos limites, a caça, permitindo assim também uma nova fonte de rendimentos para um país já de si tão deficitado.

São estas as minhas considerações sobre o post em apreço, restando-me apenas uma. Não será por derrubar um mero ninho de cegonha que um padre deixa de o ser, aqui repito-me, o único defeito que consigo apontar à actuação tida foi não ter havido 1 precaução legal com 1 pedido de autorização a quem de direito sobre o que se iria perpetrar. Talvez até tenha sido feito, não sei, mas sabendo a diligência das nossas autoridades, até se tornaria mais compreensivel!

(e aqui tens Silvia, já me podes apelidar de insensivel e mais não sei que..)

João Honrado

5 de abril de 2006 às 15:05  
Blogger Hugo Cunha Lança said...

já não há padres, como o Amaro...

5 de abril de 2006 às 15:07  
Blogger sissi said...

João: nem sei o motivo de gostar tanto de ti...(estou a brincar!). Sobre a tua longa exposição só posso dizer o seguinte. Não concordo com ditaduras, sejam verdes, laranjas ou vermelhas. Mas ser ecologista não implica ser sempre radical. E ser ecologista não implica ser elemento de um partido. Não o sou. Mas sou sócia de associações que protegem a natureza e só lamento não ter tempo para me envolver mais nessa luta.
Não me digas que és daqueles que para evitar os incêndios mandam derrubar as árvores! E olha que há um ser (humano não sei) que assim pensa e até dirige uma das super-potências mundiais.
Nós não somos donos do mundo que habitamos. Vivemos nele há bem pouco tempo. Sei que não te estou a ensinar nada, mas onde divergimos é no seguinte: eu, enquanto ser humano, tenho uma responsabilidade acrescida sobre esse mesmo mundo. Sendo detentora do tão humano «livre arbitrio», tenho a possibilidade de escolher entre o bem e o mal. Não me queiras convencer que fazer touradas e derrubar ninhos de cegonhas são coisas boas. Em que valores assenta essa opção? Não é puro egoismo? Não me interessa se as cegonhas e os touros estão ou não em vias de extinção. São seres-no-mundo, tal como eu e tu, e como tal devo respeitá-los.

5 de abril de 2006 às 15:30  
Blogger sissi said...

É verdade...não tenho nada contra os padres. Até gosto muito particularmente de um: o que me casou. Um grande abraço ao Padre Roque. :-)

5 de abril de 2006 às 15:32  
Blogger alnair said...

Nas escolas esforçamo-nos por passar a mensagem da necessidade de conservação e preservação do ambiente. Depois assistimos a comportamentos similares aos do padre. As crianças são confrontadas com mensagens completamente opostas. Não há mais esquizofrénicos porque não calha!

Também não tenho partido. Mas tomo partido, nestas questões. Entendo que o grau de evolução de uma sociedade se afere pela maneira como trata os seus idosos, os seus deficientes, as suas crianças e os animais. Penso, até, que a evolução se faz no sentido do respeito por tudo quanto existe e não o contrário.

E das touradas o que eu gosto mesmo é do que se escreve acerca delas. :))Tanto na antropologia, como na etnografia e até na abordagem estética. Mas gosto, sobretudo, de olhar as touradas do ponto de vista da psicanálise, onde é frequentemente abordada a questão da “homossexualidade latente” do toureiro. É um grande contraste se cruzarmos isso com a ideia de marialvismo e machismo da imagem que tradicionalmente lhe está associada. É interessante. E muito curioso!!! Deixo um excerto (que é um outro olhar), o simbolismo, no livro de Leiris, Espelho da Tauromaquia:

"Analisada sob o ângulo das relações que mantém notadamente com a actividade erótica, a arte tauromáquica assumirá, bem se presume, o aspecto de um desses factos reveladores que esclarecem partes obscuras de nós mesmos, na medida em que agem por uma espécie de simpatia ou semelhança, e cuja força emotiva deriva de serem espelhos que guardam, já objectivada e como prefigurada, a imagem mesma da nossa emoção. Nada melhor, numa análise eminentemente espacializada como a de Leiris, do que ilustrar essa tese por meio do passe tauromáquico, momento crucial em que torero e touro se tangenciam sem se tocar, pela mediação do pano: "tudo se passa como se houvesse geometria com desobediência, torção constante dessa geometria" (p. 33). É precisamente desse descompasso mínimo que explode, caloroso, o "olé"; "desse hiato ou falha mínima, onde um lábio seria o ‘além’ e o outro lábio seria o ‘aquém’" (p. 35), nasceria o ápice do prazer. Entende-se, assim, por que a tauromaquia, historicamente anterior ao advento da modernidade, carrega consigo uma noção de beleza que só os modernos chegariam a definir: o prazer estético que ela produz depende da transgressão, do pecado em relação à regra. E eis que Leiris chega ao "símbolo mais adequado do que são os recessos de nossa vida passional"…

6 de abril de 2006 às 00:19  
Blogger JHonrado said...

Não posso de deixar de achar curioso o facto de cada vez que falo de toiros (ou refiro, porque de facto falar nunca falei) seja bombardeado com estorias de homossexualidade. Estas estórias mais não passam de boatos, na medida em que apenas houve rumores nos chamados mentideros de tais hipotéticas situações.

Pessoalmente acho curioso que sempre mo refiram também (na medida em que quem mo refere considera tal como actos de plena liberdade e normalidade e apontando-me tal desse modo) por parecer querer mostrar-me que é algo pejurativo para 1 mundo que tanto aprecio (dos toiros).

Evitando mais longas exposições fico-me por aqui, na medida em que sempre respeitei os senhores anti-tauromaquia, ainda que estes (na maior parte das vezes)não tenham agido perante a minha pessoa de igual modo.

Já agora deixo outro repto para a Silvia discorrer. Estando em plena ameaça de pandemia derivada à gripe das aves e ao já famoso H5N1, gostaria de saber opiniões acerca do abate generalizado de aves de capoeira em países onde se identificou tal vírus.

6 de abril de 2006 às 14:06  
Blogger alnair said...

Achei curioso o contraste entre o que diz a psicanálise (e não são estórias) e o que a nossa jurisprudência entende. Está 3 post´s abaixo: "Num país de tradições tauromáquicas e de moral ditada por uma tradição ainda de cariz marialva, como é Portugal (…) especialmente se o seu detentor for de sexo masculino, face às regras de uma moral social vigente, ainda predominantemente machista".

Gosto de toda carga simbólica associada às faenas. OLÉ!!
Os touros não precisam é ser de verdade.
Muitos beijinhos :))

6 de abril de 2006 às 14:50  
Blogger sissi said...

Meu caro João. Até me ofendes...Achas que iria preferir que o virus se espalhasse? A diferença é tão só esta: considero que os danos a infringir na natureza devem sempre ter como correlativo a salvaguarda de um bem maior. Ora nas touradas não encontro esse beneficio mas na dizimação das aves já encontro. Não discuto, nem nunca discuti, que o valor de uma vida humana, é superior ao valor de uma ave (embora, em certos casos, tenha de pensar um pouco!).

6 de abril de 2006 às 17:23  

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