sábado, janeiro 27, 2007

Técnicas e Práticas Jurídicas

Verbo

Ponho palavras em cima da mesa; e deixo
que se sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a
sílaba, para as levarem à boca – onde as palavras se
voltam a colar, para caírem sobre a mesa.

Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos
palavras; e roubamos outras palavras, quando não
as temos; e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.

Mas há as palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre, o vento sopra-as para o chão. No dia seguinte,
a mulher a dias há-de varrê-las para o lixo.

Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por isso. Depois, guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa.

Nuno Júdice, As coisas mais simples, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2006.

Memória de uma aula diferente, oferecida a pessoas únicas. Desejo que se tornem artífices das palavras, oferecendo-lhes, no tempo e circunstâncias certas, o exacto sentido e alcance que elas nos merecem.
Obrigado!

Um abraço,

Paulo Cavaco

View My Stats