sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Homicídio de um sem abrigo

Os 14 os jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos terão espancado até à morte um sem-abrigo travesti. O cadáver do homem, com cerca de 35 anos, foi encontrado num fosso com cerca de dez metros de profundidade no piso subterrâneo de um parque de estacionamento na Avenida Fernão de Magalhães, no Porto.

O cadáver, com sinais de decomposição que indiciavam que a morte ocorreu há dois ou três dias, foi retirado pelos mergulhadores dos Sapadores Bombeiros do Porto num fosso com vários metros cúbicos de água. (a noticia está aqui).

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10 Comments:

Blogger sissi said...

Este acontecimento só revela como os jovens estão cada vez com menos referências. Não há uma representação do «eu» no «outro» e assim se explica estas monstruosidades. Perdendo-se essa identificação, que tantos descreveram como «exclusiva do ser humano», não nos resta mais nada que nos diferencie dos animais. Matar, agredir e humilhar passou a ser tão banal como ir ao supermercado comprar batatas. E veja-se também o que se passou no Iraque, na já tão famosa prisão dos horrores! Face a esta sociedade desumanizada pouco nos resta a não ser temer pelo futuro dos nossos sucessores. O caminho que se está a tomar não me parece de modo algum feliz. Se este não é o «fim da história» de Fukuyama proclamava estou certa que estaremos bem perto dele.

24 de fevereiro de 2006 às 16:17  
Blogger alnair said...

Pois é, Silvia! esse olhar do "outro" que tanta falta nos faz. É o olhar do "outro" que diz quem nós somos. É o "outro" que nos ajuda a construir quem somos. Nós não somos sem o outro! É importante ter isto presente para podermos perceber certos comportamentos na adolescência. E, também, para perecebermos o funcionamento em grupo, o chamado "gang".

Acontece que há muitos meninos que não têm o olhar de ninguém. Há crianças na mais completa "auto-gestão". Mas apesar disso, não me apetece nada ver o mundo pela perspectiva teleológica de Fukuyama. Prefiro acreditar no ser humano e na sua capacidade de se reinventar. Para tempos que correm, que tal darmos aos meninos mais família e menos escola?:)

24 de fevereiro de 2006 às 17:22  
Blogger sissi said...

Concordo ctg Manela, mas o problema é que a vida actual não se compadece com isso. Também gostaria de dar mais «familia» à minha Mariana, mas o que é certo é que todos os meses os pais sabem que vão as «continhas» ao banco e o dinheirito tem que estar lá...Infelizmente estamos a caminhar para uma socidedade em que pouco é o tempo que temos para mimar os outros. Não é puro egoismo. É mais uma questão de sobrevivência. Mas qt aos miudos, quero ás vezes acreditar no bom selvagem do Rousseau - que justifica que todos somos bons por natureza e que a sociedade é que nos corrompe - mas cada vez mais a opção pela maldade primordial me começa a tomar a mente. Não se pode culpar a sociedade de todas as asneiras que fazemos. Para alguma coisa nos serve a racionalidade (e essa não nos é dada pela sociedade). Sei distinguir, mesmo de olhos fechados e sem estar prisioneira de toda a axiologia que me rodeia, quando faço alguém sofrer. E até há animais capazes de comportamentos de verdadeiro altruismo e revelação de piedade. Se não actuamos sempre bem, a culpa nem sempre é da sociedade. talvez seja de nós próprios.

26 de fevereiro de 2006 às 22:59  
Blogger alnair said...

Correndo o risco de estar a monopolizar este espaço de diálogo, não resisto a continuar a conversa contigo, Sílvia. :)

Não é só porque o tema me interessa é, sobretudo, pelas imensas questões que levanta. Em relação aos jovens do Porto,não sabemos o que os motivou. Da minha experiência,sempre que vi o "grupo", a "horda", agir com violência é porque estavam assustados e sozinhos. Talvez por se saberem sozinhos se sentiam assustados. Não sei se foi o caso.
De qualquer modo, creio que o sentimento de uma "ameaça", ainda que hipotética, paira sempre no grupo. Basta ver, no clima colectivista dos linchamentos, a ameaça (seja do que for) está sempre presente. Normalmente refere-se à honra. E isto é interessante do ponto de vista cultural, da cultura das sociedades mediterrânicas. A tal "honra e vergonha".
Mas voltando ao assunto das famílias, não discuto a necessidade de entregarem aos outros a educação dos filhos. Até porque há quem prefira. :) Não tenhas dúvidas de que se as escolas estivessem abertas à noite e aos fins de semana, estariam repletas de meninos. O que quero dizer é que se espera que a Escola faça aquilo que a família sente que não é capaz. É essa fragilidade das famílias leva a institucionalizar as crianças com a maior das facilidades. Custa-me aceitar isso! Se calhar é preciso repensar, a nível social, o grande problema que foi trazido com o facto de as famílias terem que trabalhar fora de casa tantas horas diárias. Não creio que a solução esteja no alargamento do horário das escolas. Porque voltamos sempre ao mesmo: a questão dos afectos não se resolve na Escola, resolve-se na família. Esta é a minha convicção.
As questões Roussaunianas e as escalas axiológicas levar-nos-iam longe, mas amanhã é dia de trabalho.:)
Mas não quero finalizar sem um recado para a minha sobrinha Mariana. :) Espero que quando olhares para ela não sejas assolada pela incerteza se ela é ou não portadora da maldade primordial!!!! Vais ter essa tentação quando ela quiser brincar e tu quiseres dormir porque tens que trabalhar no outro dia!:))) Mas isso passa.

27 de fevereiro de 2006 às 01:17  
Blogger JHonrado said...

Não tendo a pretensão de dizer algo muito inteligente,nem tao pouco pretender discutir situaçoes escolares e escolasticas com duas licenciadas, apenas pretendo manifestar a minha discordância com o rousseau, na medida em que devido a 1 excesso de cepticismo, nao concordo nada que o ser humano seja bom por natureza, alias, penso exactamente o oposto!

Em relação ao caso concreto, a minha opinião tem tanto de polémica como de minha, afirmo e sustenho que um grupo de adolescentes matou 1 sem abrigo, que além de o ser era travesti e prostituto. Obvio que a acção em si é deveras sensurável e quem de direito lhe deverá procurar as causas que a tal conduziram. Todavia, penso que o facto a que se dá mais atenção não é ao acto em si, mas sim quem foi objecto de tal! Senão vejamos, ninguém parece preocupar-se com o facto de o senhor ser sem abrigo, nem tão ser pouco prostituto,o que de facto incomoda as associações da especialidade é que se assassinou 1 gay! Isto incomoda-me, quando se violam raparigas o alarido é muitissimo menor, mas agora com o facto de meia duzia de putos terem morto alguém que provavelmente viria a morrer infectado com 1 doença infecto contagiosa e sérias possibilidades de a transmitir a outrém,caí o carmo e a trindade! É certo que o que os jovens fizeram não tem qualquer tipo de desculpa e que por tais factos serão devidamente punidos, agora chegámos a 1 ponto neste país em que o lobby gay parece pretender desestruturar os alicerces em que a nossa sociedade foi construída e eu isso, digam-me lá o que disserem, nunca poderei concordar!

Com toda a noção das minhas palavras, resta-me o consolo de neste país não se poder agir contra alguém por mero delito de opinião!

27 de fevereiro de 2006 às 03:10  
Blogger sissi said...

Minha querida manela, está certa que ainda tenho esperança no ser humano e que a nossa Mariana será um amor de pessoa ;-). A questão dos grupos e do seu poder levava-nos longe mas agora tenho que deixar um recado aqui ao nosso amigo JH - com quem tenho aliás grandes conversas via msg sobre assuntos que nos aquecem o sangue (touradas e homosexualidade, por exemplo). Meu amor, a questão aqui não se prende, julgo eu, com o facto do dito desgraçado ser gay. Matou-se de forma bárbara um SER HUMANO. PIOR: mais de uma dezena de crianças encetaram este CRIME. Ninguem está muito preocupado com o gay. São as crianças que estamos a educar, ou que deviamos estar a educar, que preocupam a sociedade. Esquece lá isso do lobby gay. Pensa antes do lobby religioso que tantas morte permite ao proibir o preservativo.

27 de fevereiro de 2006 às 10:02  
Blogger alnair said...

João: humm...touradas e homossexualidade...hmmm...aquelas collants côr-de-rosa, aquelas sabrinas de pompons, aqueles fatos justos dos toureiros, aquele serpentear na arena...hmmm :)))

Silvia: As pessoas que não usam preservativo...será por convição e obediência religiosas?

27 de fevereiro de 2006 às 13:15  
Blogger alnair said...

João: humm...touradas e homossexualidade...hmmm...aquelas collants côr-de-rosa, aquelas sabrinas de pompons, aqueles fatos justos dos toureiros, aquele serpentear na arena...hmmm :)))

Silvia: As pessoas que não usam preservativo...será por convição e obediência religiosas?

27 de fevereiro de 2006 às 13:26  
Blogger sissi said...

Algumas serão...E uma morte pesa tanto na consciência como a de um milhão de pessoas.

27 de fevereiro de 2006 às 14:06  
Blogger JHonrado said...

so 1 nota manela, quer as sabrinas quer os collants usados plos toreros têm razão de ser. Ao contrário dalguns espécimes da raça humana, os toreros usam tais apetrechos no mero intuito de reduzir a àrea corporal susceptível dos toiros "enganchar", algo que por norma tende a produzir volteretas e cornadas com ou sem empitonamento!

Não o fazer é como saltar de um avião sem utilizar um paraquedas em bom estado!

27 de fevereiro de 2006 às 19:33  

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