Responsabilidade social dos Blogues - parte I
(Em resposta a um repto do prof. Hugo Lança)
Na noite de sábado, depois de sair do jantar na casa dos sogros, tive de tomar uma decisão difícil. Estava a chover e ao meu encontro estava a vir uma pequenina cadelinha branca, da raça caniche, verdadeiramente ensopada e com um olhar triste. Não conseguiria dormir se não lhe fizesse nada. Estava perdida de certeza e dava ideia que teria sido abandonada pois reagia muito bem ao contacto com os humanos, tendo subido para o carro com muita naturalidade. Não a podia levar para casa. As minhas duas cadelas e os três gatos já «enchem» suficientemente o espaço. E, de outra forma, nem os meus pais achariam piada à ideia. Valeu-me a bondade da Rita. Passou a noite em sua casa, resguardada dos olhos do «Jeremias» e no dia seguinte foi para o «Cantinho dos Animais» que está a rebentar pelas costuras. Com o intuito de ajudar na sua alimentação, dirigimo-nos na manhã seguinte, ontem, a essas instalações. A Rita estava lá mas não ouvia a campainha. A nossa presença desencadeou contudo um tumulto. Três cães enormes jogaram-se literalmente ao pescoço de um outro, que viemos a saber estar lá há pouco tempo. Aqueles minutos pareceram horas. Assistimos à sua tortura sem saber o que fazer. Acho mesmo, agora à posteriori, que até devemos ter prolongado o seu sofrimento pois quanto mais eu batia com o guarda chuva na rede e gritava, mais eles pareciam furiosos. As minhas pernas tremiam e sentia uma enorme angustia. Sabia que não devia estar ali a assistir aquilo mas queria ver como ficava o cão. Finalmente largaram-no. Deitava sangue de uma orelha e deitou-se no chão, com o ar mais triste que se pode imaginar. Fiquei revoltada o resto do dia. Aquela imagem ainda hoje não me larga. Temi pela cadelinha. Não sei, até agora, se ela não estaria melhor na rua. Já me passou tudo pela cabeça...E se ela não estava perdida! E se estava a dirigir-se para casa e eu a coloquei naquele inferno?
(texto colocado no meu blog no dia 16 de Março)
O «Cantinho dos Animais» não é porém um «inferno». É uma associação dirigida por pessoas que muito dão do seu tempo livre a mais de uma centena de animais que ali habita. Lutam contra a falta de comida mas especialmente contra a falta de espaço. Todos os dias são lançados cães pelos seus altos muros e assim, todos os dias, se procura encontrar mais um espaço para alojar os novos inquilinos. Se é certo que o «Cantinho dos Animais» não é um «inferno», há no entanto que perguntar: O que é?
http://www.acab.info/
Na noite de sábado, depois de sair do jantar na casa dos sogros, tive de tomar uma decisão difícil. Estava a chover e ao meu encontro estava a vir uma pequenina cadelinha branca, da raça caniche, verdadeiramente ensopada e com um olhar triste. Não conseguiria dormir se não lhe fizesse nada. Estava perdida de certeza e dava ideia que teria sido abandonada pois reagia muito bem ao contacto com os humanos, tendo subido para o carro com muita naturalidade. Não a podia levar para casa. As minhas duas cadelas e os três gatos já «enchem» suficientemente o espaço. E, de outra forma, nem os meus pais achariam piada à ideia. Valeu-me a bondade da Rita. Passou a noite em sua casa, resguardada dos olhos do «Jeremias» e no dia seguinte foi para o «Cantinho dos Animais» que está a rebentar pelas costuras. Com o intuito de ajudar na sua alimentação, dirigimo-nos na manhã seguinte, ontem, a essas instalações. A Rita estava lá mas não ouvia a campainha. A nossa presença desencadeou contudo um tumulto. Três cães enormes jogaram-se literalmente ao pescoço de um outro, que viemos a saber estar lá há pouco tempo. Aqueles minutos pareceram horas. Assistimos à sua tortura sem saber o que fazer. Acho mesmo, agora à posteriori, que até devemos ter prolongado o seu sofrimento pois quanto mais eu batia com o guarda chuva na rede e gritava, mais eles pareciam furiosos. As minhas pernas tremiam e sentia uma enorme angustia. Sabia que não devia estar ali a assistir aquilo mas queria ver como ficava o cão. Finalmente largaram-no. Deitava sangue de uma orelha e deitou-se no chão, com o ar mais triste que se pode imaginar. Fiquei revoltada o resto do dia. Aquela imagem ainda hoje não me larga. Temi pela cadelinha. Não sei, até agora, se ela não estaria melhor na rua. Já me passou tudo pela cabeça...E se ela não estava perdida! E se estava a dirigir-se para casa e eu a coloquei naquele inferno?
(texto colocado no meu blog no dia 16 de Março)
O «Cantinho dos Animais» não é porém um «inferno». É uma associação dirigida por pessoas que muito dão do seu tempo livre a mais de uma centena de animais que ali habita. Lutam contra a falta de comida mas especialmente contra a falta de espaço. Todos os dias são lançados cães pelos seus altos muros e assim, todos os dias, se procura encontrar mais um espaço para alojar os novos inquilinos. Se é certo que o «Cantinho dos Animais» não é um «inferno», há no entanto que perguntar: O que é?
http://www.acab.info/
4 Comments:
Também já me vi envolvida em situações semelhantes, não tive porém a coragem de ir deixar os amigos de 4 patas numa instituição como a que referes.
Numa ocasião a caminho de casa encontrei um Samoyedo, meigo e doce, à beira de uma estrada movimentadíssima. Não consegui seguir caminho pensando que poderia ser atropelado. Lá me aventurei e o "convenci" a entrar no carro, directamente para o veterinário. Depois de uma consulta de rotina e algumas vacinas, andei de casa em casa de amigas a fazer publicidade àquela meiguice que parecia uma bola de algodão branco gigante. Teve sorte... arranjou uma casa onde encontrou muito amor e carinho.
Noutra ocasião, encontrei uma cadelinha pequenina aninhada num monte de areia numa obra a tremer de frio. Mais uma vez a levei para o veterinário, consulta, vacinas, e ficou uns dias lá em casa, longe dos olhares furtivos e ciumentos da smilla. Depois de as suas fotos correrem todos os meus contactos de e-mail lá lhe arranjei uma casa em Oliveira do Hospital... e lá fui eu, de Faro, levar a flufy ao norte.
A terceira situação foi talqualmente semelhante a estas...
A questão que se coloca é que, muito ainda há que fazer no sentido de promover, participar e auxiliar este tipo de instituições... já fazem muito, mas ainda é pouco... Não são só casos de saúde pública evitar animais abandonados nas ruas, mas acima de tudo respeito pelos animais, como muito bem referiste!
O cantinho dos animais em Beja arrancou com um grupo de pessoas das quais duas são minhas amigas. Ainda me lembro de andarmos a "rascunhar" os estatutos da associação. A ideia era livrar os animais de uma morte certa, no canil. Era transformar aquele local de morte num espaço de passagem até os animais serem adoptados. Sinceramente, louvo a dedicação que essas pessoas conseguem, sobretudo porque eu não a tenho. É mais que dedicação. Elas elegeram o voluntariado junto dos animais como parte das suas vidas. Prescindir dos fins de semana para ir para o cantinho tratar da comida, de limpar as boxes, tratar das feridas, dar injecções, tratar epidemias de sarna, etc.. E com algum tempinho que sobrasse fazer campanhas de angariação de fundos e sensibilização à adopção. E depois disto tudo, fazer quilómetros de volta a Mértola, preparar aulas, ver testes, etc.. É de louvar! Não posso deixar de enviar beijinhos à Marina e à Bianjo.
Mais do que dedicação aos animais as pessoas que trabalham nesse espaço têm verdadeiro, puro e sincero amor por eles. Não me esqueço quando uma amiga voluntária no CA me disse: «TIvemos que matar mais de dez este fim de semana». Disse isto com a alma ferida e eu nem imaginava a dor que sentia ao dizer-me aquilo. Eram os mais velhos, os que ninguem quer. A capacidade do espaço não dá para garantir uma vida condigna aqueles animais. A escolha delas não foi fácil mas agora compreendo que foi necessária. Eu sei que não teria coragem de o ter feito mas sei que é um mal necessário.
Pois, deve ser mesmo amor sincero que têm pelos animais. Eu não consigo. Tentei com um peixe de aquário mas morreu empanturrado. Parece que exagerei na dose! :(
Resta-me o consolo de, uma vez, um cão (perdigueiro), me ter eleito para sua dona. Tratei dele com muito amor e carinho, mas devolvi à liberdade assim que pude. Acho que ele é muito mais feliz assim. E acho que ele também acha.:))
Sílvia, para quando uns apontamentos de humor? prometeste!! Se não soltamos a gargalhada, corremos o risco de sairmos do blog chorando aos gritos!! E gritando pelo Padrinho que tão bem nos trata e que temos de convencer a entrar neste círculo de conversas. Somos tão poucos! Que achas? Diz que sim! Beijinhos.
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