segunda-feira, março 05, 2007

DOCUMENTO DE OPINIÃO

É um direito que assiste a qualquer aluno, empenhado e interessado, manifestar a sua opinião relativamente ao modo como as aulas decorrem nas diferentes disciplinas que compõem o elenco curricular do curso que frequenta, o qual, nem mesmo pelo medo ou temor de represálias que vem sendo cultivado, pode ficar prejudicado. A preocupação em aprender e compreender, julgo eu, deverá ser de natureza e valor superior ao de uma licenciatura por uma licenciatura. Assim, e por se considerar que existem, manifestamente, situações que prejudicam a aprendizagem e a aquisição dos conhecimentos necessários a um bom desempenho disciplinar por parte dos alunos, cabe aos mesmos, também, enquanto elementos activos do processo ensino-aprendizagem, denunciar tais situações. A saber:

. Na disciplina de Finanças Públicas (2º ano de Direito) grande parte dos conteúdos programáticos foram superficialmente abordados pelo docente, que se limitou, quase sempre, a ditar apontamentos, não procedendo a uma efectiva explicação posterior desses mesmos conteúdos, o que dificultou todo o trabalho subsequente (compreensão e aplicação dos conhecimentos) por parte dos alunos.

. O docente revelou insegurança no esclarecimento de dúvidas, tendo, inclusivamente, nalguns casos, evitado o confronto das mesmas, argumentando que seriam posteriormente esclarecidas para não quebrar o ritmo da aula. Sabendo que em qualquer contexto comunicativo, seja ele escrito ou oral, qualquer interpretação errada pode levar à construção deficiente do conhecimento, não se compreende tal atitude do docente.

. O docente não adoptou as estratégias/metodologias mais consentâneas com a natureza da disciplina: na maioria das aulas, e quando não se dedicava a questões e temas sem qualquer identidade com as Finanças Públicas, limitou-se à projecção de acetatos, com síntese das matérias, remetendo para o manual adoptado (Livro do Prof. Sousa Franco). Durante a exposição/exploração daqueles recursos didácticos o docente revelou alguma dificuldade na explicação do seu conteúdo pois, sempre que considerava importante salientar determinados conceitos, necessitava de reler toda a definição subjacente. Esta situação, julga-se, é reveladora da insegurança e falta de preparação nas matérias em causa.

. Na disciplina a carga horária semanal é de 5 horas lectivas: 3 h teóricas e 2 h práticas. Face a esta distribuição pergunta-se: porque razão o docente apenas realizou, efectivamente, um aula prática no último dias de aulas – dia 30 de Janeiro? Conclui-se, deste modo, que a disciplina teve uma componente quase exclusivamente teórica, o que não se coaduna com a natureza da mesma, nem com a natureza do curso em si. Pelo facto lamenta-se.

. Na última aula o docente forneceu aos alunos um leque de documentos (cópias dos acetatos que projectou, bem como cópias de documentos respeitantes a alguns conteúdos programáticos abordados). Quanto à intenção do docente, que se presume ter sido a melhor – consolidação de conhecimentos dos alunos - nada deve ser referido. Todavia, é lamentável que tais cópias não tivessem, na sua maioria, uma ordenação lógica. Mas o mais grave é o facto de algumas dessas cópias serem fragmentos do trabalho de um aluno (António Filipe Garcez José) da Universidade Autónoma de Lisboa, conforme pode ser confirmado no site da respectiva universidade. Pergunta-se: qual a fidelidade de tais apontamentos, tendo em atenção a fonte de onde provêm? E porque foi omitida a fonte? Se atendermos, ainda, ao facto de alguns documentos aludirem à correcção de casos práticos cujo enunciado se desconhece, que sentido fazem como elemento de estudo/preparação para uma frequência?

. É lamentável que o docente em vez de incentivar os alunos com metodologias adequadas tenha contribuído para a sua desmotivação face à disciplina, o que se traduziu em dificuldades acrescidas na sistematização e ordenação das matérias com vista ao plano de estudo para a frequência.

. Finalmente, e após a realização da frequência da referida disciplina, constatou-se que o docente atribuiu à parte prática (dois exercícios práticos) uma cotação correspondente a oito valores. Esta cotação é, no caso em apreço, considerada excessiva, tendo em atenção a falta de preparação dos alunos nesse domínio, uma vez que só foi efectuada uma aula prática (leia-se, uma hora prática). Além disso, numa das questões sucintas era questionada a distinção entre: Orçamento formal e Orçamento substancial. Face à questão e tendo em atenção que nas aulas não foi referido que também se poderia aplicar os termos: formal e substancial ao orçamento, alguns alunos julgaram tratar-se de “Equilíbrio orçamental formal” e “Equilíbrio orçamental substancial”, contextos em que os referidos termos foram utilizados nas aulas. Pergunta-se: são os alunos obrigados a saber que há autores que aplicam aqueles termos quando se referem à ”forma” e à “substância”, respectivamente, do orçamento? Isto é, o “Ex ante” e o “Ex post” orçamental? Convém salientar que se os alunos frequentam as aulas é para aprender aquilo que na realidade não dominam, caso contrário bastar-lhe-ia ler a bibliografia recomendada e propor-se a um exame final.

Assim e tendo em consideração o exposto pergunta-se:

É este o ensino de qualidade que se pretende? É esta a oferta que a instituição pretende dar aqueles que se esforçam por ir todos os dias às aulas, acompanhar as matérias e atingir os objectivos inerentes à licenciatura que frequentam? Muito sinceramente, julgo que não. Face a esta realidade é de toda a legitimidade exigir profissionais competentes e habilitados, empenhados em dar o seu melhor como docentes, e interessados nos resultados obtidos pelos alunos, à semelhança de muitos docentes que leccionam nesta instituição e com quem se tem o prazer de partilhar conhecimentos em aulas condignas, enriquecedoras e convenientemente preparadas.

Por uma questão de princípio e de educação, fiz questão de dar conhecimento prévio e presencial do teor do presente documento ao Professor Doutor Chambel Vieira e ao Dr. Ludgero Escoval (solicitei reunião, mas nem obtive resposta), em momento anterior ao da realização da própria prova oral de Finanças Públicas, exigindo por razões evidentes, ligadas a requisitos mínimos de garantias de imparcialidade, que a minha avaliação seja confiada a outro qualquer docente, entregando também, e à falta de órgão ou agente na Universidade com legitimidade e competência para o fazer, cópia ao Professor Auxiliar Convidado, Dr. Palma Lopes, docente decano da Universidade, que considero acima de qualquer suspeita e investido em reconhecida competência e experiência técnica, pedagógica, profissional e científica, mas sobretudo, ética, pedindo-lhe que interceda e tome posição perante estes factos, acautelando a defesa dos interesses de alunos e da própria instituição.

Que este documento sirva também de apoio a uma reflexão imediata sobre a qualidade do ensino ministrado na Universidade Moderna de Beja e que contribua para uma mudança urgente que se pretende.

Virgínia Sebastião

4 Comments:

Blogger Fátima Parente said...

Estimada colega, quero aqui expressar todo o meio apoio na tão nobre iniciativa de denunciar parte do que está mal na Universidade que juntas frequentamos. Revejo a minha posição nas suas palavras e manifesto a minha total discordância no rumo, que a instituição que escolhemos para nos formarmos, está a tomar. Um rumo para o desconhecido, onde impera a falta de preparação docente/pedagógica por aqueles que a deveriam ter, como por exemplo o docente que refere (não me ocorrendo outro). Saliento que não se verifica somente nas suas aulas de Finanças Públicas a falta de preparação deste docente, como aluna do 3.º ano de Direito, também tenho tido a oportunidade de verificar a fraca capacidade de conseguir abordar/esclarecer temas de extrema importância, no âmbito do Direito do Trabalho, por parte do docente por si mencionado. Lamento o facto de tudo isto ter sido exposto, porque gostaria de vir para este espaço salientar o meu orgulho em frequentar uma Universidade onde a excelência e a qualidade de ensino fossem as bandeiras hasteadas, mas infelizmente assim não se verifica e ultimamente menos ainda.

Quero aqui deixar três palavras para os nossos colegas: “União, Solidariedade e Justiça” são necessárias e urgentes a partir deste momento, para que não deixemos cair por terra as nossas reais aspirações, que são a conclusão do nosso curso, nesta Universidade que voluntariamente escolhemos, em condições que se desejam sejam fundadas na qualidade de ensino e respectivamente na qualidade dos docentes, para que com orgulho e reais capacidades profissionais, possamos, futuramente, afirmar com orgulho que nos formámos na Universidade Moderna de Beja.

5 de março de 2007 às 22:51  
Blogger Luís Cardoso (II) said...

É sem dúvida de honrar todos os actos que sejam desenvolvidos em prol dos interesses dos alunos, que são legítimos, embora há quem não compartilhe esta característica dos nossos interesses. Apesar de estar no início da recta final do curso que todos partilhamos, sinto-me obrigado a manifestar a minha opinião, porque é triste e por também já estar farto de ouvir situações que, constantemente põem em causa a "nossa casa" que tanto contribuiu para a formação de centenas ou até milhares de homens e mulheres que hoje pertencem ao mundo jurídico e de aqueles que estão prestes a pertencer a esse mundo.
Mas o que é incrível, é o facto de ser sempre a "Administração" (tanto a antiga como a actual) quer pela acção quer pela omissão, o "sujeito processual" que é sempre posto em causa.
O que agora é denunciado pelas Ilustres Colegas do 2º e 3º Anos é, na minha modesta opinião, bstante grave, porque está em causa a formação de alunos que diáriamente lutam para poderem corresponder ao que lhes é exigido para concretizarem o seu curso, mas sendo tal verídico, isso está a ser posto em causa. Haja, no minimo, algum respeito!
Motivo pelo qual peço ao Dr. Administrador que imperitivelmente, no mais curto espaço de tempo possível, dê lugar ao exercício do princípio do contraditório, com o objectivo de se resolver, pelo menos, esta situação. Não se refugie, novamente, no silêncio ou deixando na gaveta as soluções que tanto se pedem e se esperam !
Finalizo a minha intervenção perguntando: É este o projecto que a Administração pretendeu desenvolver, que pediu aos Professores que apostassem e aos alunos que confiassem ?

5 de março de 2007 às 23:56  
Blogger Fátima Parente said...

A pedido do colega Delegado de Turma do 3.º ano do curso de Direito, Tiago Barrelas, coloco aqui a seguinte mensagem:

Como Delegado de Turma do 3.º ano do Curso de Direito, quero aqui manifestar e sublinhar, em nome da turma que represento, todo o apoio e solidariedade para com a colega Virgínia Sebastião que, com este gesto revelador de coragem, empenho e de um enorme sentido de responsabilidade, tornou públicas estas situações melindrosas, devido à relevante gravidade e importância das mesmas. Que a maioria dos alunos desta casa, embora não o manifestando de idêntica forma, devido ao receio de represálias, há muito vêm abordando / discutindo em diversas conversas de bar e nos corredores da Universidade.

Quero, em nome da turma de 3.º ano, salientar que nos revemos nas palavras da colega – no nosso caso em particular, nas aulas práticas de Direito do Trabalho – quando faz referência de que o docente em apreço revela insegurança no esclarecimento de dúvidas, evitando, muitas vezes o confronto das mesmas; e também quanto à manifesta dificuldade e insegurança do docente em explicar de forma clara e assertiva os diversos conteúdos do programa, à medida que vão sendo abordados e explorados nas aulas.

Para finalizar, quero também aqui dar a conhecer a todos aqueles que tiverem a oportunidade de ler este comentário, de que, a turma de 3.º ano face a todos estes acontecimentos – e outros que, genericamente, já são do conhecimento geral da comunidade universitária – elaborou uma missiva, que já se encontra a circular por todas as turmas do Curso de Direito, para, após reunidas o maior número de assinaturas dos alunos, ser entregue, ainda hoje, ao Sr. Administrador da Universidade Moderna de Beja – Prof. Chambel, para que o mesmo tenha conhecimento da posição generalizada dos alunos, das suas dúvidas e de um sem número de questões de natureza pedagógica, institucional, administrativa, organizativa, entre outras. E tenha a possibilidade de, até à próxima sexta-feira (09-03-2007), se manifestar perante todos os alunos desta casa.

Aproveito também para sensibilizar todos os colegas para que, voluntariamente e solidariamente, se mobilizem no sentido de assinarem um pedido, que também hoje irá circular na Universidade, a fim de solicitar à Associação de Estudantes (como órgão competente e de direito) a marcação urgente de uma RGA, – Reunião Geral de Alunos – para que o Prof. Chambel tenha a oportunidade de esclarecer pessoalmente toda a comunidade universitária e, de serem devidamente e efectivamente abordados e tratados estes e outros assuntos julgados necessários, urgentes e importantes para nós, os alunos que frequentamos esta Universidade.

Agradeço toda a vossa atenção disponibilizada para a leitura e posterior análise e reflexão desta tomada de posição por parte da turma que represento, deixando a todos os colegas os meus pessoais cumprimentos.


O Delegado de Turma
(Tiago Barrelas)

7 de março de 2007 às 06:30  
Blogger Sonya said...

Coleguinha, venho através destas minhas breves palavras dar-te todo o meu apoio e louvar a coragem q tiveste em "dar a cara" por tdos nós, alunos da Univ.Moderna de Beja!Pq apesar de teres exposto aqui, uma situação particular à tua turma, tb a mim, e aos meus colegas de 3º ano diz respeito!Pq como tdos sabem, temos um docente em comum, e q achamos tal c/ tu, demonstrar uma certa insegurança e falta de experiência no leccionamento da cadeira de Dto Trabalho (aulas práticas)!Demos-lhe a conhecer essa situação sem qualquer intenção de o melindrar ou ferir a sua susceptibilidade, mas fomos mal-entendidos, e temos sofrido desde aí faltas de respeito e educação dentro da sala de aula por parte do mesmo docente! Coisa q já n é novidade p/nguém!Mas, tenho orgulho em dizer q faço parte de uma turma q se rege, nos tempos q correm hje em dia, por principios autênticos de honestidade e verdade, não permitindo q exista qualquer tipo de coacção,q nos permita desviar desses principios,hje em dia,c/tdos sabem cada vez mais raros!Por isso, kerida colega,em meu nome e tb dos meus coleguinhas, estamos do lado do "jogo limpo" aliado a uma qualidade de ensino que se pretende ser de mérito e excelência!

Sónia Barrambanas

8 de março de 2007 às 02:42  

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