terça-feira, março 27, 2007

PERDOEM-ME……….

Meus caros e estimados alunos

Estas serão provavelmente as linhas mais difíceis que escrevi até hoje…

Difíceis e sofridas já que estarei a romper com 15 anos da minha vida, tempo que recordarei com grande e devota saudade…

Mas a minha consciência e postura perante a vida e diante daquilo que defendo, impõe e exige-me tal posição.

Esta é apenas uma carta de despedida… mas uma despedida que me rasgou a alma e a tranquilidade desde a minha tomada de decisão ocorrida na passada sexta feira, dia 16 de Março, através de carta que dirigi ao Sr. Administrador da Sagesfi, SA, Prof. Dr. Chambel Vieira.

Foi talvez um dos dias que gostaria de varrer o rasto, se pudesse…infelizmente não posso. E é com vocês, meus queridos alunos que pretendo partilhá-la, pedindo-vos desde logo perdão, mil vezes perdão…

Perdão por ter faltado ao meu compromisso perante vós…

Perdão por vos abandonar numa altura em que talvez mais falta vos faço, procurando serenar os vossos receios e desalentos e imbuindo-os dos mais elementares valores humanos e académicos, como entendo ser dever de um docente, pelo menos na minha perspectiva.

Mas sinto que as forças me faltam…. Durante as últimas semanas todos os nefastos acontecimentos que aconteceram na nossa casa e aquilo que procurei defender resultaram infrutíferos e conduziram a que me visse obrigada a tomar esta posição.

Como espero que compreendam não posso continuar como docente de uma Instituição que propugna valores distintos dos meus e dos quais não posso abdicar sob pena de contrariar a minha própria natureza

Valores que entendo fundamentais à formação de todos em geral e de cada um de vós em especial….

Como penso ser do vosso conhecimento, desde o primeiro momento entendi que as vossas vozes, queixas e reivindicações deveriam ser ouvidas, motivo pelo qual procurei junto de quem de direito, transmitir essas vossas e minhas preocupações… Não logrei ter êxito… perdoem-me a falha… por ela me penitencio e penitenciarei…, mas entendo que essa derrota não pode significar que poderei tornear a violação de princípios básicos e fundamentais, fazendo parte de uma Instituição onde as vossas vozes não são ouvidas, onde as vossas legítimas reivindicações ecoam mudas nos nossos corredores... não posso compactuar com silêncios cúmplices… com cabeças baixas, com silêncios cobardes… esse fato não é meu e jamais o vestirei… a minha consciência impõe-me um caminho diferente e não julgarei ninguém pela tomada de rumos diferentes, optando pelo silêncio em detrimento daquilo que considero justo, adequado e exigível.

A cada um dos meus colegas caberá em consciência tomar partido pelos valores que considerarão mais conformes com a sua postura humana, social e pedagógica.

A formação que recebi não me permite decidir de forma diferente. Não foi esta a casa que me acolheu no saudoso ano de 1992 e não foram estes os ensinamentos de vida que recebi, sendo certo que neste momento e perante este quadro factual, não é a esta a Universidade que sinto dever algo.

Não pretendo reivindicar louros que não mereço, mas quem me conhece sabe que nunca fiz parte das lutas e guerras de bastidores para ter algo que nunca quis nem mereci… apenas quis leccionar na estrita medida que podia e sabia.

Tenho ampla consciência que não sou perfeita mas também nunca pretendi sê-lo… Entendo que o ensino universitário é uma simbiose de troca de conhecimentos profissionais, afectivos e sociais, erigidos entre alunos e professores, com o respeito e dedicação recíprocos e merecidos, laços esses criados por toda uma vida.

Entendo ainda que uma Universidade não se pode limitar a ser um local onde se debitam matérias jurídicas… isso qualquer manual razoável terá a virtualidade de conseguir… A Universidade meus caros é muito mais que isso… por isso entendo e defendo que sendo a Universidade uma escola de vida, deveremos ser nós docentes os primeiros a caminharmos no sentido daquilo que entendemos correcto e íntegro, dando-vos o exemplo... quem pretender e aprovar a nossa candeia seguir-nos-á, em consciência e de cabeça erguida.

Não vale a pena repetir aqui as motivações subjacentes à minha decisão.

Todos vós as conheceis. Não me identifico nem revejo em nada daquilo que nos últimos tempos tem acontecido na nossa e minha Universidade.

Não aceito que interesses dúbios e silêncio cúmplices me e vos escoltem…. Por isso mais uma vez perdão vos peço…

Não poderia terminar sem deixar de saudar e elogiar todos aqueles que dignamente tomaram posição por esta causa… sinto-me deveras orgulhosa de vos ter conhecido e de ter partilhado momentos preciosos com todos…. Sinto que vós, sem sombra de dúvida, sereis os homens e mulheres do amanhã, com um sentido de dever singular.

Compreendo também aqueles que atrás do silêncio se esconderam vislumbrando apenas os seus particulares interesses ….

Na verdade, é o caminho mais fácil e as lides não são para todos…

A todos os meus ex-alunos, e em especial aos alunos do 2.º, 3.º, 4.º e 5.º ano do ano lectivo de 2006/2007, e esta é a parte mais difícil e dolorosa, com a “voz” embargada pelas lágrimas”, desejo o melhor que a vida vos possa dar.

Um bem-haja para todos e mais uma vez o meu pedido de perdão, perdão……perdão….

Beja, 27 de Março de 2007

/Teresinha Ramos/

8 Comments:

Blogger Fátima Parente said...

Drª Teresinha, a si dedico com os olhos molhados pelas lágrimas que teimam em soltar-se as seguintes palavras...
"Enquanto indivíduos, é tão pouco o que podemos fazer para ajudar quem sofre e está triste neste mundo - os solitários, os despojados, os prisioneiros, os desprezados, os exilados, os física e espiritualmente doentes, os que têm frio, os famintos.
No entanto, podemos chegar aqueles que conhecemos com cortesia e bondade...
Tratando-os com o respeito que merecem.
Prestando homenagem à sua coragem. Escutando as suas histórias.
Porque toda a bondade se espraia num círculo irradiante. Vejam como, por toda a parte, as pessoas boas criam anéis de luz, que se deslocam, penetrando a solidão, anéis que se ligam e entrelaçam."
Obrigada por tudo o que me ofereceu, pelos conhecimentos tão bem transmitidos, pela exigência, pelo carinho e repeito que sempre teve com todos nós, pelas horas dedicadas, pelos bons momentos passados dentro da sala de aula... Por tudo isto e muito mais... OBRIGADA!

"Não vás aonde o caminho possa levar-te.
Vai, antes, por onde não haja caminho e deixa um trilho."

28 de março de 2007 às 00:30  
Blogger Luís Cardoso (II) said...

Sempre ouvi dizer que "o que é bom parte primeiro, porque o céu está vazio e o inferno está cheio".
Ilustre Drª Teresinha, em relação ao seu pedido de perdão, tenho-lhe a dizer que da minha parte está perdoada, pese embora que não deveria ser você a pedir perdão...
Obrigada por tudo e, como já referi nas minhas anteriores intervenções, o destino ditará a "sentença final" ! Bem haja !

28 de março de 2007 às 00:52  
Blogger sissi said...

Sabia que este dia iria chegar...sabia por conhecer a sua integridade que jamais lhe permitiria pactuar com certas coisas que se vivem na UM. Imagino que este seu acto lhe tenha motivado sentimentos ambivalentes. A dor com que está por nos deixar tem agora que ser substituida pela traquilidade que estes dias lhe vão trazer. Afastada daquele espaço estou certa que vai ter mais tempo para os seus, para si, e não terá que viver diariamente com certos absurdos... Quanto á amizade que nos tem acredite que é reciproca. Nunca esquecerei as orais que fiz consigo...As piores da minha vida sem qualquer dúvida, mas apenas por demérito meu. ;-) Sempre foi uma professora invejável. Não há nada que se lhe possa apontar. Estou certa que será noutro local uma óptima formadora. Não desista do ensino, professora.
Vou ter contudo saudades de ver o seu passo decidido, a sua voz firme e o seu sorriso maravilhoso...Que estas minhas lágrimas não sejam contudo uma despedida...O mundo é pequeno, mesmo quando pensamos o contrário.

28 de março de 2007 às 10:59  
Blogger Sonya said...

Dra. Teresinha, infelizmente não tenho muito a dizer, talvez porque a emoção neste momento me assalta,e a tristeza tolda o meu pensamento...
Entendo perfeitamente os motivos da sua saída, pois o cansaço e desalento acabam por tomar conta de nós...especialmente, quando notamos que andamos a lutar praticamente sozinhos,e que todas as portas parecem fechar-se!!Não tem de pedir perdão,pois sei q sempre estará ao lado dos seus alunos e a defender principios que por estes dias, já vão escasseando!E isso é o mais importante...Nunca deixe de acreditar!
Da minha parte, tenho a agradecer por tudo o q me ensinou, não ´so dentro da sala de aula, como fora dela,principalmente essa força e sentido de dignidade e justiça que sei que faz parte de si!
Tenho tb a agradecer-lhe pelas aulas divertidas,exigentes e bem ministradas, q são a caracteristica principal de um docente de qualidade,pela preocupação que sempre teve com todos nós, pelos bons conselhos, e principalmente, pelo carinho, respeito e dedicação que sempre nos ofereceu!
Obrigada por tudo...sinceramente do fundo do coração!

28 de março de 2007 às 18:56  
Blogger joão graça said...

PARA ONDE CAMINHAMOS?

É penoso perdê-la, Teresinha! E essa dor aumenta quando aqueles que mais confiança nos transmitem acabam por enveredar pelo caminho mais fácil. As palavras são suas e tornei-as minhas porque encaixo naqueles que preservam o silêncio e a neutralidade ao invés de arvorar bandeiras pardacentas.

Aprendi consigo o significado jurídico da palavra "depende", sendo certo que o termo implica ponderação, equilíbrio e tolerância, condição essencial para se conceber o perfil do melhor jurista. Com todo o respeito que merecem os vários intérpretes deste cenário, parece-me arriscado tomar partidos quando os métodos não são os mais adequados na defesa dos interesses dos alunos. O resultado está bem patente!...

Sempre ouvi aos meus professores, sem excepção, afirmar que o dever de ensinar e os seus destinatários justificavam outros tantos sacrifícios, sendo esse espírito de missão um enorme património do Pólo de Beja da UM. Se atendermos aos motivos porque chegámos à presente situação, verificamos que na sua génese estão questões de natureza menor, porventura laterais ao normal funcionamento da Instituição e é por isso, Drª. Teresinha, que prefiro ser partidário do "talvez". Não entenda nas minhas palavras qualquer adversidade e se nunca me havia pronunciado faço-o agora com mágoa porque, inequivocamente, gosto de si.

Prometeu-nos, quaisquer que fossem as contrariedades, que não nos deixaria até ao final do presente ano lectivo, por isso reconsidere e não deixe que se cumpra a máxima de Nietzsche: "fiquei magoado não por me teres mentido mas por não poder voltar a acreditar-te".


/João Graça/

3ºAno

30 de março de 2007 às 10:11  
Blogger Unknown said...

O último comentário à Drª Teresinha deixou-me pensativo...
Neste processo não houve nem interesses nem "tomar partidos"...houve princípios que foram postos em causa e esses são inalienáveis...e foi pena que a minha querida afilhada não tivesse transcrito a carta que endereçou à sociedade comercial que gere o Polo...às vezes, é preciso começar de novo, como diz a Betânea...a Teresinha tentou tudo...tudo...e fê-lo com coragem...com pragmatismo e , ao pedir perdão ( porquê???) não mentiu...fê-lo com muito amor pelos alunos e pela Instituição que a formou. O seu acto foi de humildade e de coragem que a mim, que a conheço muito bem, não me surpreendeu, pela coerência que sempre a pautou..por isso, é com um misto de orgulho e de especial carinho que lhe chamo rainha santa Isabel...ao pedir que lhe perdoem um acto que não poderia ser outro...e repito fê-lo com lucidez, depois de ter tentado o impossivel com determinação e com amor. Bem haja minha querida! Palma Lopes

3 de abril de 2007 às 09:35  
Blogger J.Vilhena said...

Bravo Teresinha!!!

O silêncio é sempre cúmplice...
e quem é cúmplice, seja por que motivo fôr, não contribui para que a Universidade seja o que o em tempos foi e que alguém teima em estragar!

Fazem falta os que vão... Estão a mais os que ficam e aqueles que, apressadamente, foram por estes "empurrados" pela porta dentro.

Ninguém se pode rever numa casa onde reinam indignidades, silêncios cumplices, medos, ameaças, prepotencias.

O futuro brevemente irá fazer justiça!

Os alunos deverão ser formados numa escola de valores e nunca num lamaçal..Isso é que é contribuir para elevação da Instituição.

Não há que pedir perdão!

J.Vilhena

4 de abril de 2007 às 00:43  
Blogger joão graça said...

Dr.Palma Lopes, apesar de não ser o espaço próprio para comentarmos comentadores, não resisti à tentação de o esclarecer, uma vez que ficou pensativo com a minha opinião.

Exceptuando a promessa de nos conduzir até ao final do ano lectivo, aquilo que penso e disse em relação à Drª. Teresinha aplica-se integralmente à sua pessoa. É penoso perdê-lo!

Não tenho dúvidas que as vossas decisões têm como escopo princípios e valores inalienáveis, todavia, em redor, não se ecoam causas e lutas sem apoio, por isso as tomadas de posição existem e vegetam sempre como subsidiárias das razões mais nobres.
É essa oportunidade que custa a ser percebida!

A questão não está no conteúdo mas sim na forma como este processo foi conduzido. O caso prático encontra-se transcrito na mensagem anónima e deficiente que recebi via telemóvel, após o comentário que dirigi à Drª Teresinha:
" perdes-te uma boa oportunidade de estares calado. Não tens feito nada p ajudar por isso não atrapalhes. E não insultes quem não merece e quem tem lutado!".

Com mais ou menos pluralidade, veja se os partidos e os ressentimentos no seio da comunidade académica não se formaram, Dr Palma Lopes.

4 de abril de 2007 às 17:53  

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